quarta-feira, 12 de março de 2008

Letra a letra, hora a hora, linha a linha,
Marquei no diário de bordo as fases da viagem…”
Álvaro Feijó in Diário de Bordo
::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::


Viagem aos confins da divindade,
Na mais pura verdade
Que as minhas mãos ousaram escrever.
Verdade que atormenta até a alma inocente,
Que temida, como uma serpente,
À primeira pisada ataca, com fúria!

Eu deixo-me calcar,
Favoreço a criação!
Possuo a verdade,
Mais do que ninguém.
O ninguém,
É todo o que possui a verdade,
Que eu desconheço.

Um aro, em torno de mim,
Afasta-me.
Como eu quero que esta viagem não termine!
Jamais quero deixar de sonhar.
Que venha uma luz, que me ilumine,
Que me mostre o caminho, seguro para pisar.
Enquanto me vou saciando
Nesta inacabável sede de saber.
Vou bebendo então desta luz
Que me ofusca a visão.
Vou bebendo das palavras,
Que são ditas sem razão.
Vou bebendo sem saber,
Que à procura do saber,
Quatro paredes se erguem
E fazem com que sosseguem
As batidas do meu coração.

Por isso, calquem-me,
Uma e outra vez,
Posso não despertar,
Ou pode a força não quebrar
Estas paredes que ocultam
O belo que é o outro lado.
Onde está o ser humano
Inteiramente racional, de braços abertos…

Porém, se me calcarem,
Aí sim, sei, descubro, convenço-me.
Enfim noto, destapo, revelo-me,
Como um ser vivo,
Capaz de:
S entir,
A mar,
B em-
-E ntender
R amificar…
A minha sabedoria,
Que é maior do que ninguém.
O ninguém sou eu, tu, ele,
Somos nós, o ninguém!

Agora choro, e escrevo
Choro palavras que vão secando.
Elas solidificam bem claras
Num imundo choro de criança.
De um recém-nascido,
Que traz no topo da sua cabeça,
O cheiro sentido
Da pura liberdade.
Clemente obra és tu,
Inocente criança, pequenina,
Que permanece nos meus sonhos de menina
Que quer mudar o mundo.
Choro e escrevo,
Escrevo as palavras que choram.
Que são lágrimas secas,
Que dos meus olhos saem.
E nesta folha caem incansavelmente,
Fruto de sentimentos que no coração moram.

Faço poesia,
Porque um poeta exprime,
Um poeta consente
Todo o amor que sente
Sem se rebaixar, sempre firme.
Então, faço poesia,
E com ironia a comparo,
Às palavras que choram,
Dias e dias, sem ter ninguém
Que as seque, que as enxugue.
Não posso enganar o meu coração,
Que tão bem me enganou,
Fazendo-me desejar,
Quem nunca me desejou.

Destino o meu?
Não o sei…
Para tal limito-me a crer.
Que aqui estou.
Para sempre?
Não certamente.
Mas para ti, eternamente!

Ana Lúcia Magalhães

( pseudónimo – Margarida Pimentel )
Morre lentamente de Pablo Neruda




Morre lentamente quem não viaja
Quem não lê,
Quem não ouve música,
Quem não encontra graça em si mesmo.

Morre lentamente,
Quem destrói seu amor próprio,
Quem não se deixa ajudar.

Morre lentamente,
Quem se transforma em escravo do hábito,
Repetindo todos os dias os mesmos trajectos,
Quem não muda de marca,
Não se arrisca a vestir uma nova cor,
Ou não conversa com quem não conhece.

Morre lentamente,
Quem evita uma paixão e seu redemoinho de emoções,
Justamente as que resgatam o brilho dos olhos,
E os corações aos tropeços.

Morre lentamente,
Quem não vira a mesa quando está infeliz,
Com o seu trabalho, ou amor,
Quem não arrisca o certo pelo incerto,
Para ir atrás de um sonho,
Quem não se permite,
Pelo menos uma vez na vida,
Fugir dos conselhos sensatos…


Então, não te deixes morrer!

Vive!