segunda-feira, 27 de abril de 2009

AS BRUMAS DO FUTURO


Sim, foi assim que a minha mão
Surgiu de entre o silêncio obscuro
E com cuidado, guardou lugar
À flor da Primavera e a tudo

Manhã de Abril
E um gesto puro
Coincidiu com a multidão
Que tudo esperava e descobriu
Que a razão de um povo inteiro
Leva tempo a construir
Ficámos nós
Só a pensar
Se o gesto fora bem seguro

Ficámos nós
A hesitar
Por entre as brumas do futuro

A outra acção prudente
Que termo dava
À solidão da gente
Que desesperava
Na calada e fria noite
De uma terra inconsolável

Adormeci
Com a sensação
Que tínhamos mudado o mundo
Na madrugada
A multidão
Gritava os sonhos mais profundos

Mas além disso
Um outro breve início
Deixou palavras de ordem
Nos muros da cidade
Quebrando as leis do medo
Foi mostrando os caminhos
E a cada um a voz
Que a voz de cada era
A sua voz
A sua voz
Letra: Pedro Ayres Magalhães
Música: Madredeus

domingo, 19 de abril de 2009

AUSÊNCIA



No Sábado passado, no encontro dos Sementinhas, o tema foi a felicidade. Chegamos mesmo a comparar a vida a um comboio.
Nem de propósito, nestes últimos dias a minha vida tem sido bem agitada. Não digo que ando num comboio ultra rápido, o que acontece é que não estou sempre na mesma carruagem. A máquina carrega bastantes carruagens que já possuo e percorro. E a verdade é que após um dia a percorrer todas elas, é difícil de voltar ao início, pois o caminho já é longo.
Não é porque não quero voltar que não volto, mas sim porque tenho que responder a todos os chamamentos das pessoas que albergo. Isso implica, muitas vezes, abdicar da máquina que transporta tudo o resto, passar por carruagens onde não passo há muito tempo, rever rostos que amo, apertar nos braços os corpos que me fizeram sorrir, mas que naquele momento só me fazem chorar - que saudade, que angústia, que lamúria. Digam lá se a felicidade não passa por aqui?
É necessário passar pela dor, por muito que custe, e é necessário chorá-la. A saudade torna-nos mais fortes e resistentes. Aliás, não só a saudade, mas também todos os sentimentos e emoções que consideramos negativos e que nos fazem infelizes. Mas explico-vos a razão da existência dessa tristeza: ela existe para nos fazer temer e respeitar a felicidade. Assim, quando esta nos bate à porta vamos recebe-la de bom grado e vamos aproveitar ao máximo cada momento.
Agora, o difícil não é perceber esta resposta, mas sim perceber de onde podemos retirar a felicidade – ponham-se nos outros e olhem-se nos olhos. Como nos diz a Mafalda Veiga: “somos muito mais se nos olharmos tão fundo de frente”. (Sim, porque no comboio da minha vida não falta música e poesia).
Esta foi, portanto, a maneira mais simplificada que arranjei para vos explicar o porquê da minha ausência: andei a viajar por caminhos bem distantes dos que viajo agora. Mas fiz o diário de bordo da viagem. Por isso, neste momento, na frente deste comboio gigante, buzino a todos os outros e alerto os seus corações para a conclusão mais verdadeira que retirei da viagem: a felicidade começa em nós.