quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

"Retalhos de Animação - Partilha do Teatro, Música e Dança"

Animais estranhos, com os donos ainda mais estranhos,
numa quinta que cada vez mais se torna:
a quinta da animação!
Algo de estranho está a acontecer...
Será que é facil acreditar na magia? E a magia, existe mesmo?
Venham até esta quinta, fazer parte do nosso queridíssimo público.
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Dia 12/02, às 21:30h
Auditório Municipal de Lousada
Entrada Livre
Produção e Encenação de Capitolina Oliveira
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Vêmo-nos no Teatro!

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

O actor e o esqueleto


As palavras inscritas no Osso
(é assim que deve ser).
O músculo diz a parte interior, isto é: a alma.
O músculo diz a alma da palavras, enquanto a parte menor
são as letras aparecidas como a surpresa sonora da voz.
Quase nada, portanto.
Porque o músculo é mais importante; e o osso é mais importante.
E o texto para o actor é bengala: a vara de madeira que suporta o coração.
Enquanto o coração, esse, é a parte alta do actor;
a torre de onde se pode ver Deus e os homens.
(E não se deve confundir a bengala com a perna).
Porque a palavra ajuda-nos a não cair
e o coração ajuda-nos a subir. É diferente.
E entre o cair e sujar-se (a terra)
e o subir e salvar-se (o céu)
existe o esqueleto do actor: a linguagem da morte (os ossos)
tapada pelo tecido da vida: a pele.
Porque o texto da peça foi encontrado no osso; no seu centro.
E o coração do actor é sangue, quase tudo, palavras e movimento
(e é assim que deve ser).

(...)

Sejamos claros: o texto tem (pode não ter, mas normalmente tem), o texto tem : ; . ,
o texto tem: pontuação.
E a pontuação não é para ler, isto é, não é para ser dita.
A pontuação é para ser respirada.
A pontuação deve entrar no corpo em forma de oxigénio, e sair breve em CO2.
A pontuação do escritor, que é basicamente tinta ou caracter na máquina,
é no actor coisa viva: Oxigénio ou CO2.
Mas o facto é um, e inegável:
se todo o texto se diz, toda a pontuação se cala.

Porque não é nas letras que a pontuação se exibe, mas na voz.
Porque a voz pode, por exemplo, tremer, e é pontuação.
E a voz pode, por exemplo, saltar, e é pontuação.
E a voz pode, por exemplo, sofrer, amar ou torturar, e é ainda, essa voz, apenas pontuação.
A pontuação é voz e respiração, mas é também o modo como a pele se ilumina ou não.

Ou seja: se há no texto ponto de exclamação, no palco deverá existir exclamação ainda, mas na pele. Coisa difícil.
Porque os actores devem despir-se sem tirar a roupa, e devem dizer aos espectadores, sem abrirem a boca:
- Vejam, este é o ponto de exclamação que o autor queria, aqui mesmo, nesta parte do texto.
E é nesse momento que o actor seguro, o actor sagrado, deverá apontar o coração.
E a frase: É aqui, nesta parte do texto, significará para o actor: é aqui, nesta parte do corpo.

Toda a pontuação deve, pois, ser dita primeiro no coração.

E este orgão, como se leu nos manuais da escola, tem ventrículos (2) e alguma tecnologia. É deixar, então, a estes ventrículos (2) a responsabilidade primeira do quotidiano transporte do sangue e do excepcional transporte da pontuação;
e esperar depois que a cada músculo, a cada osso, e a cada molécula, chegue este carregamento afectivo, sanguíneo e poético.
É necessário, então, ser objectivamente biológico e dizer:
a pontuação do texto habita os glóbulos brancos e vermelhos do actor.
E se a autópsia final não o revelar: é porque alguém se enganou no percurso.

(...)

O teatro é (deve ser) o que seja capaz de fazer o espectador pedir:
- Dê-me um bilhete para mudar de vida.
O teatro é, deve ser: 1 bilhete para mudar a vida.


"Alguns dólares sobre teatro e outras notas menores" – fragmento (Gonçalo M. Tavares)

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Choro Bandido

No outro dia descobri esta versão do tema “Choro Bandido” do Chico Buarque, pelos Clã, e fiquei deliciada! Quando digo deliciada quero dizer mesmo muito deliciada ao ponto de ter que ouvir a música todos os dias.

Há tons, ou meios tons; melodias ou dissonâncias - o que lhe quisermos chamar, pouco importa - que mexem connosco de tal modo que, por momentos, nada mais queremos senão os 3 ou 4 minutos dessa canção.

A música já tem uns anos, mas quero partilha-la convosco. Prestem atenção ao poema cantado e deliciem-se também com tamanha doçura!

domingo, 6 de setembro de 2009

Música lindíssima, com uma letra fantástica e uma voz que encanta e não cansa.

Para quem quiser assistir, o Rodrigo Leão estará no Coliseu do Porto em Novembro.

“Ao vivo, temas novos como «Vida Tão Estranha» ou «Sleepless Heart» cruzam-se com momentos altos do seu reportório, como «A Casa», «Voltar» ou «Solitude», num desfiar de um mágico novelo de melodias que entrelaçam imagens no nosso imaginário. Em palco com Celina da Piedade, Ana Vieira, Viviena Toupikova, Marco Pereira, Bruno Silva, Luís Aires e Luís San Payo, Rodrigo Leão volta a convocar as melodias encantadas que lhe têm valido aplausos constantes em todo o mundo.”

Mais em: http://www.coliseudoporto.pt

Imperdível!

HPIM6327p

“O valor das coisas não está no tempo que duram,

mas na intensidade com que acontecem.

Por isso existem

momentos inesquecíveis,

coisas inexplicáveis

e pessoas incomparáveis.”

 

FERNANDO PESSOA

 

É através destas belas palavras de Pessoa que resumo estes meses que passaram. Vivi momentos bons e maus – e quando digo bons quero dizer que foram muito bons mesmo! – passei por sensações muito intensas, inexplicáveis e estive com pessoas – muitas pessoas – incomparáveis, muito especiais.

Sou feliz por viver deste modo mas vivo num tormento por saber que a felicidade é efémera. E hoje, das nuvens pressinto a nascente de um rio onde cairão lágrimas como chuva pelas mais altas montanhas. Quando tiver caído no mais profundo oceano, aguardarei os raios fortes de uma luz que me levará de volta para as nuvens que cobrem os céus, e brilharei mais do que nunca, por isso não temo. Caio, regresso e sinto-me imortal.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

AS BRUMAS DO FUTURO


Sim, foi assim que a minha mão
Surgiu de entre o silêncio obscuro
E com cuidado, guardou lugar
À flor da Primavera e a tudo

Manhã de Abril
E um gesto puro
Coincidiu com a multidão
Que tudo esperava e descobriu
Que a razão de um povo inteiro
Leva tempo a construir
Ficámos nós
Só a pensar
Se o gesto fora bem seguro

Ficámos nós
A hesitar
Por entre as brumas do futuro

A outra acção prudente
Que termo dava
À solidão da gente
Que desesperava
Na calada e fria noite
De uma terra inconsolável

Adormeci
Com a sensação
Que tínhamos mudado o mundo
Na madrugada
A multidão
Gritava os sonhos mais profundos

Mas além disso
Um outro breve início
Deixou palavras de ordem
Nos muros da cidade
Quebrando as leis do medo
Foi mostrando os caminhos
E a cada um a voz
Que a voz de cada era
A sua voz
A sua voz
Letra: Pedro Ayres Magalhães
Música: Madredeus

domingo, 19 de abril de 2009

AUSÊNCIA



No Sábado passado, no encontro dos Sementinhas, o tema foi a felicidade. Chegamos mesmo a comparar a vida a um comboio.
Nem de propósito, nestes últimos dias a minha vida tem sido bem agitada. Não digo que ando num comboio ultra rápido, o que acontece é que não estou sempre na mesma carruagem. A máquina carrega bastantes carruagens que já possuo e percorro. E a verdade é que após um dia a percorrer todas elas, é difícil de voltar ao início, pois o caminho já é longo.
Não é porque não quero voltar que não volto, mas sim porque tenho que responder a todos os chamamentos das pessoas que albergo. Isso implica, muitas vezes, abdicar da máquina que transporta tudo o resto, passar por carruagens onde não passo há muito tempo, rever rostos que amo, apertar nos braços os corpos que me fizeram sorrir, mas que naquele momento só me fazem chorar - que saudade, que angústia, que lamúria. Digam lá se a felicidade não passa por aqui?
É necessário passar pela dor, por muito que custe, e é necessário chorá-la. A saudade torna-nos mais fortes e resistentes. Aliás, não só a saudade, mas também todos os sentimentos e emoções que consideramos negativos e que nos fazem infelizes. Mas explico-vos a razão da existência dessa tristeza: ela existe para nos fazer temer e respeitar a felicidade. Assim, quando esta nos bate à porta vamos recebe-la de bom grado e vamos aproveitar ao máximo cada momento.
Agora, o difícil não é perceber esta resposta, mas sim perceber de onde podemos retirar a felicidade – ponham-se nos outros e olhem-se nos olhos. Como nos diz a Mafalda Veiga: “somos muito mais se nos olharmos tão fundo de frente”. (Sim, porque no comboio da minha vida não falta música e poesia).
Esta foi, portanto, a maneira mais simplificada que arranjei para vos explicar o porquê da minha ausência: andei a viajar por caminhos bem distantes dos que viajo agora. Mas fiz o diário de bordo da viagem. Por isso, neste momento, na frente deste comboio gigante, buzino a todos os outros e alerto os seus corações para a conclusão mais verdadeira que retirei da viagem: a felicidade começa em nós.

domingo, 22 de março de 2009

O PAI POÉTICO

Porque no dia 19 foi o dia de S.José, o dia do pai, e porque ontem foi o dia mundial da poesia, juntei o útil ao agradável, e decidi publicar um poema de Eduardo Rôlo que descreve o amor de pai e a felicidade de o ser de verdadeiramente.

A todos os pais, em especial ao meu pai. Sabes ser Pai sempre, sem te preocupares com o conceito, és assim, naturalmente, o pai que me ajudou a ser o que hoje sou e que me ensinou o que é o amor: não o conceito, mas de onde ele vem!






Feliz o pai que
é companheiro e amigo;
que está presente e faz família.
Que arranja tempo e ternura
para dar e para amar
o melhor que o mundo tem.
Que trabalha e vai à frente,
qual modelo de constância e de projecto.

Feliz o pai que desce à magia da criança;
que se encanta a ver o filho
despertar para a vida…
no jeito de se afirmar «nisto» ou «naquilo»;
que protege e solta o pássaro que habita nele.

Feliz o pai que preenche o olhar fixo
da filha-menina e lhe arranca
silêncios de coração, como a dizer:
«quando for grande,
é um amor assim que quero ter…!»



Eduardo Rêgo

sexta-feira, 20 de março de 2009

LOUSADA: A FORTALEZA ANSIADA


Ao toque adormecido do louvor,
Erguemos aos céus, numa melodia,
As vozes da terra no seu esplendor,
Que cantam a Origem com alegria.
Com olhos no futuro, está o furor
De lembrar Ontem o nosso dia,
O passado, de Hora e de Amanhã.

O Fado chama-nos à união
Na busca de um sublime coração.

És tu, no Vale do Sousa plantada,
Que incandesces com a tua rara beleza
Os olhos que tu fitas, terra amada.
Lágrimas te percorrem: são tristeza.
Saudade de quem por ti passou, Lousada.
Teu verde, fértil, traz-nos a certeza
De uma presente geração, com fulgor.
Cantares de júbilo te dêem valor.

Já a manhã se julga senhora
E já o é a tua nobre gente.

Cantemos tuas lágrimas de esperança,
Teu sorriso tímido no nevoeiro,
Ou o teu brilho que a montanha alcança;
Cantemos o sonho verdadeiro,
De em tudo pôr amor, como uma criança:
Tornar Lousada exemplo ao mundo inteiro!
No horizonte, no paraíso prostrada,
Se forma, a fortaleza ansiada.

segunda-feira, 2 de março de 2009

CONTINUAÇÃO D' O CONTO DO VELHO


no antigamente eu tinha o meu pai, eu tinha a minha mãe. Eu era moço e vivia.

A noite veio mais depressa. Lembro-me de acordar e de gritar pelo espaço, palavras dormentes, palavras de um sonâmbulo que mal atravessavam os vultos que me separavam dos meus pais.
Alguns dias passaram em que eu ainda não tinha acordado daquela noite. E quando acordei não havia a cozinha, nem a janela onde estava desenhada a casa. Não havia o campo verde, nem as flores. Não havia a laranjeira, nem havia a Constança.
Agora, diante dela fala a mesma saudade, o menino que foi e que é feliz (apenas) quando de noite se deita, para falar e para brincar com a sua melhor amiga, ainda que seja apenas em sonhos.
E ela espera-me na laranjeira, a Constança, enquanto eu não adormeço para, em sonhos, a rever.



Meus queridos leitores, apresento-vos o velho que em mim surgiu, estranhamente, e aqui escreveu, cuja misteriosa vida irá ser contada neste blog, mais adiante:


Fernando Almada Dias