domingo, 15 de fevereiro de 2009

A PROPÓSITO DO DIA 14...


Que hei-de eu fazer
Eu tão nova e desamparada,
Quando o amor
Me entra de repente
P´la porta da frente
E fica a porta escancarada?

Vou-te dizer
A luz começou em frestas,
Se fores a ver
Enquanto assim durares
Se fores amado e amares,
Dirás sempre palavras destas.

P´ra te ter,
P´ra que de mim não te zangues,
Eu vou-te dar
A pele, o meu cetim,
Coração carmesim,
As carnes e com elas sangues.

Às vezes o amor
No calendário, noutro mês, é dor,
É cego e surdo e mudo
E o dia tão diário disso tudo.

E se um dia a razão
Fria e negra do destino,
Deitar mão
À porta, à luz aberta
Que te deixe liberta
E do pássaro se ouça o trino.

Por te querer
Vou abrir em mim dois espaços,
P´ra te dar
Enredo ao folhetim,
A flor ao teu jardim,
As pernas e com elas braços.

Às vezes o amor
No calendário, noutro mês, é dor,
É cego e surdo e mudo
E o dia tão diário disso tudo.

Mas se tudo tem fim,
Porquê dar ao amor guarida?
Mesmo assim
Dá princípio ao começo,
Se morreres só te peço
Da morte volta sempre em vida!

Às vezes o amor
No calendário, noutro mês é dor,
É cego e surdo e mudo.
E o dia tão diário disso tudo.
Da morte volta sempre em vida!

Sérgio Godinho, Ligação Directa

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